Imagem e palavra
Imagem: do latim imagine. Representação gráfica, plástica ou fotográfica de pessoa ou de objeto. Reprodução invertida de pessoa ou objeto. Representação dinâmica, cinematográfica ou televisionada de pessoa, animal, objeto, cena. Reprodução exata de um ser. Representação mental de um objeto. Aquilo que evoca uma determinada coisa. Manifestação sensível do abstrato ou do invisível.
O fotógrafo não retrata o inimaginável, porque só pode haver imagem do imaginável. Mas, como tudo pode ser imaginado, o fotógrafo pode retratar tudo o que quiser. Talvez a sinestesia o ajude com isto. Fotografa-se o cheiro pela cor que aparece na imagem e evoca a sensação de jasmim. Fotografa-se o silêncio porque este tem um não sei que de sofrimento e aparece no caminhar solitário ou carregado de um bêbado na madrugada. Fotografa-se a existência porque só o que existe pode ser fotografado, aliás, tudo o que é fotografado passa a existir. Fotografa-se o perdão, pois este está no olhar cândido e tranqüilo. Fotografa-se o sobre, porque este era um sobre cheio de paisagem ou de vazio mesmo. Fotografam-se a criatura e o criador, pois são.
As palavras sugerem imagens (Ricouer), porque todas as imagens se tornam palavras. Quando falamos sobre o abstrato, as imagens ficam em nossas mentes e nos fazem ter reações, inclusive físicas. Quem nunca se arrepiou ao ouvir a palavra ódio, ou a palavra amor? Quem nunca percebeu o rosto se enrubescer ao ouvir a palavra tesão? Quem nunca tremeu ao ouvir a palavra agressividade?
A subordinação semântica se dá entre a imagem da palavra e a palavra da imagem, uma e outra afloram o real sem deflorá-lo, colocam em jogo reminiscências de real, do fictício e do imaginário (Brito). Será que há ainda imagens sem palavras? Ou existem palavras sem imagens?
Questões caras à literatura, com o cinema parecem ganhar nova luz. Entre ficção e realidade, no cinema desfazem-se distâncias, segundo Rancière. Não concordo com tal afirmação, uma vez que, na literatura, é dado o direito do sonho, a liberdade da imaginação. No cinema, já está tudo lá, cores, modelos, estilos. Imaginar uma cena de um livro é altamente produtor de criatividade. Já assistir à mesma cena no cinema não tem o mesmo prazer.
O cinema encerra a cena. No livro, cada passagem pode se transformar em inúmeras cenas, de acordo com a subjetividade do leitor. As descrições são muito mais ricas na literatura que no cinema. O cinema resume as personagens.
E como fotografar o silêncio, como reproduzir o som com palavras impressas? Assim como o que está escrito existe, assim como o que foi filmado existe, também o que está na internet tem chances de ser eterno ou não. Se o fato estiver somente na internet e for apagado, deixará de existir em pouco tempo, talvez não dure um mês.
Jornais, cinema, literatura, teatro e televisão são pra toda a vida. Mas eu não posso confiar à internet o legado de ser transmissora de cultura para as próximas gerações, porque ela não é.
Ana Fátima de Rezende Gomes