A resenha abaixo foi produzida a partir de um texto elaborado por Cecília Maria Aldigueri Goulart, doutora em Letras pela PUC-RIO, para apresentação no programa Salto para o Futuro, na TV Escola 2003. (Disponível em http://www.tvebrasil.com.br/salto)
A linguagem está onde o homem está. A linguagem não existe senão por causa da comunicação. O homem não pode viver sem se comunicar, para tanto, criou códigos e definiu parâmetros para nortear o desenvolvimento da linguagem, dos modos de se fazer entender, se expressar.
A narrativa é a forma mais antiga de se compor um acervo de conhecimentos. O homem conta o que fez, como fez, para que fez, por que fez, onde fez, com o que fez. A linguagem escrita é fundamental para que a posteridade compreenda o contexto no qual foi produzido o conhecimento.
A escrita é a materialização da idéia, para se realizar necessita de um suporte, que já foi parede de caverna, hoje é muro de escola; já foi faixa de protesto, hoje é fronha personalizada; já foi papel na máquina barulhenta de escrever, hoje é tela que carrega bites e reflete letras.
A escrita ficou tão importante que tomou o lugar da palavra. Se antes a palavra era dada como fechamento de um negócio, hoje o papel assinado não fica fora de contrato algum. Sendo assim, quem não sabe ler fica fora da sociedade. O preconceito lingüístico tem, aqui, sua principal explicação: se a escrita vale mais que a palavra, quem usa a palavra mais próxima desta escrita tem mais valor do que aquele que usa a forma mais distanciada dela.
Mas, saber escrever não significa conhecer vários assuntos e, sim, saber registrá-los corretamente de acordo com a situação. Isto é letramento. Usar os conhecimentos adquiridos na escola, intertextualizando-os e textualizando as situações da vida.
Enquanto a alfabetização é um processo sistemático realizado principalmente na escola, o letramento depende do meio em que o indivíduo vive, das condições sociais às quais está exposto, aos objetos aos quais tem acesso. Alfabetização sem letramento é desprezar a língua como bem cultural, é o mesmo que criar analfabetos funcionais.